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A beleza da diversidade

Escrevo desde um lugar comum esse texto, tentando costurar aquilo que é único, com aquilo que é compartilhado, vamos ver até aonde essa ideia vai.

Lembro de um professor, ao fazer uma analogia da diversidade da floresta, falava sobre sua imunidade, uma floresta de uma espécie de árvore só, invariavelmente acaba sendo menos imune, está mais suscetível à pestes, seu solo não é tão rico, a falta de diversidade pode, inclusive, levar essa floresta a extinção de suas árvores iguais.

Pensemos da mesma forma o nosso corpo, que esteja sempre submetido às mesmas ações, ou a uma menor ou maior diversidade de ações. Quanto mais experiência, não no sentido de aprofundamento de algo, mas de experimentar mesmo, de passar pela ação independente da performance, mais repertório vamos construindo.

Ampliamos para cultura, histórias, músicas, culinária, a riqueza está na diversidade? Os muitos modos de viver, de organizar-se em comunidade, e as construções que disso surgem, no potencial de conexões possíveis, aí tem riqueza? Beleza?

Eu penso que seria triste fazer música com os mesmos instrumentos, comida com os mesmos ingredientes, histórias com os mesmos parágrafos. Daí concluímos que além de imunidade, a diversidade traz beleza pra vida.

A conta não fecha quando vemos um sistema que nos homogeiniza. Porque não se trata apenas de oprimir minorias, porque talvez se juntarmos todas as minorias, elas sejam, na verdade, a maioria, trata de impor às pessoas o mesmo modo de vida, os mesmos costumes, os mesmos hábitos. Daí vamos desde as escolhas (ou a falta delas) sobre os relacionamentos, as escolhas sobre o trabalho, as escolhas sobre diversão, as escolhas sobre a espiritualidade, até a forma como me apresento no mundo, como sou, como penso. Por que limitar a diversidade, se aí tem riqueza, tem beleza? Porque determinar modos únicos e rígidos de ser e agir é uma forma de poder.

Eu falo desde alguém que trabalha com o corpo, e que vê semelhanças e diferenças todos os dias no movimento humano. A articulação do ombro está desenhada para funcionar assim, mas a Maria teve uma educação familiar rígida e portanto, não expande o movimento dos ombros. O João está sobrecarregado no seu trabalho e gera tensão excessiva ao mínimo movimento. A Madalena adorava acompanhar o circo, e logo cedo ganhou um bambolê que lhe permitiu explorar movimentos dos ombros e do corpo todo. O Daniel nasceu em uma comunidade onde os homens e as mulheres dançam, rebolam, mexem os quadris. Tecnicamente todos movem os ombros da mesma forma, mas também cada um tem sua história, suas questões que estão refletidas no corpo.

A beleza e também o desafio aqui posto é como cada um vai acessar a experiência de movimento, quais recursos têm, quais os espaços possíveis para serem explorados. Beleza porque nenhum movimento vai ser igual, ainda que todos temos ombros. Desafio porque a tendência vai ser encontrar o padrão “correto” de movimento humano para os ombros, e um aparato de ações nos levarão a homogeneizar a aplicação de uma prática. Ou, pior ainda, limitar os indivíduos sob a chancela da “saúde”. Quem nunca saiu de um consultório médico com o diagnóstico: não faça agachamentos, com os joelhos em total condição de dobrar e estender, que é o que fazem os joelhos humanos nesse mundo. Quem nunca teve medo de estar fazendo o movimento “errado”, porque o professor/treinador se vale dessa autoridade de determinar o que é certo e errado. Eu não corrijo movimentos, eu facilito a exploração e adaptação do corpo a uma diversidade de possibilidades de movimento com consciência, atenção plena e intenção. Ao nos conectarmos com a nossa sabedoria interna, a prática não se limita, pelo contrário, ela expande. Meu papel é incentivar a tua conexão contigo, não te limitar.

Pessoas acima do peso devem fazer isso e não aquilo, pessoas com idade avançada isso, mulheres a partir de 5 semanas de gestação aquilo. A desconexão com nosso corpo, que é nosso por direito, a desconexão com nossa história, com nosso modo de ser no mundo nos deixa à deriva de um sistema que nos homogeiniza. Entramos num fluxo de ações de “saúde” e consumo para estar conforme a maioria, que de maioria não tem nada. Corpos brancos, atléticos, sem rugas e sem celulites, com pré-determinações de como devem crescer, viver, se relacionar.

Emancipar o nosso corpo é urgente, tomar posse e assumir que somos diversos em amplo espectro traz beleza e imunidade pra vida. E a partir desse respeito por si, pelo que cada um é em essência, partilhar experiências, concordar e discordar de ideias, comunicar-se, expressar-se, trocar. Eu não sei mais sobre o corpo de vocês do que vocês mesmos, estou convidando a compartilhar a experiência do movimento, que aqui cai de um jeito, aí pode cair de outro, sem fechar a prática a um jeito único, mas apontar possibilidades de exploração e ampliação do nosso repertório corporal. De preferência, fazer isso com alegria, prazer e beleza.

Diversidade é um fundamento para o meu trabalho. Com toda a limitação de acesso que eu sei que existe em estar promovendo exercícios nesse formato, estou consciente de que talvez não seja acessível a todas as pessoas, mas o respeito por cada uma é um valor inegociável e, a partir daí, abro a pensar as adaptações necessárias. Esse projeto de FLOW começa na sutileza de abrir-se para as sensações do nosso corpo, passa por experimentar uma variedade de movimentos corporais, avança no encontro com a nossa força e beleza próprias, e por fim convida a compartilhar e expressar o que cada um sente, vamos nessa?

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ROTINA NO FLOW

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