Enchentes no Rio Grande do Sul / Maio 2024
ESTUDÁVAMOS ECOLOGIA NA ESCOLA NOS ANOS 90
E também a professora e filósofa Marilena Chauí. A gente de alguma forma sabia que produzir e consumir tanto ia dar ruim. A gente também sabia que precisava cuidar da natureza, aprendemos sobre reciclagem de lixo com o documentário do Furtado da Ilha das Flores, também sobre democracia. A gente tinha alguma noção que a colonização não tinha sido a melhor coisa que nos aconteceu, terras foram exploradas, culturas devastadas. Mas e o que fizemos disso?
Não carrego a culpa propriamente, mas a dúvida de o que nos cabe? Qual nosso papel nessa história toda? O que fazemos com o que sabemos?
Tem coisas que parecem óbvias de serem ditas, primeiro que a natureza não tem nada com isso, a natureza é abundante, nos presenteia todo dia com água, luz, terra e vento. Essa não é uma tragédia da natureza, é uma tragédia do homem, talvez não da sua natureza primeira, da natureza do homem, mas das sombras da sua consciência, uma tragédia da produção do homem. O homem que ainda não entendeu que deveria servir à natureza e não o contrário. Que deveria cuidá-la e não culpá-la. Que à natureza, devemos reverência.
E eu sei que a maioria das pessoas que me lêem sabem disso. Eu sei disso. E o que fazemos com o que sabemos?
A gente sabe também que embaixo dessa água toda que nos cobriu no mês de maio tem um projeto de mundo ao qual não importa a natureza, nem água, luz, terra e vento, tampouco plantas e todos os seres, os bichos, as pessoas. Por trás desses dias difíceis que estamos passando, e ainda vamos passar, tem um projeto sendo muito bem sucedido que busca cereais e minérios, exploração, uma neocolonização. Até quando o mundo terá recurso?! Um projeto que nos enxerga como mão de obra e/ou consumidores. Não importa muito onde a gente mora, se tem esgoto, se tem acesso, se tem o risco do rio subir, se as bombas de água estão funcionando, nesse projeto de mundo não importa a vida digna de todos os seres. Esse projeto de mundo acontece em Porto Alegre, acontece no Rio Grande do Sul, acontece no Brasil e no mundo. Para esse projeto não importa o sofrimento das pessoas. Inclusive esse projeto de mundo lucra com o desastre. A gente sabe? E o que fazemos com o que sabemos?
Eu estarei pronta pra carregar pacotes e mais pacotes de arroz e feijão, garrafas de água, de novo, e de novo, e de novo. Sim, é preciso ser solidário, é preciso doar, é preciso colocar a mão na massa, e também no rodo, mas também refletir, estar consciente. É disso que o flow é feito, de estar consciente e em constante diálogo consigo, com a comunidade, com a natureza, com o mundo. Estar consciente das sensações internas, das sensações externas. Dimensionar a sua dor, porque sim, não é porque você não perdeu tudo que não te dói e não te causa trauma, se você é sensível está doendo aí também, te mando meu abracinho. Mas também estar consciente da dor do outro que perdeu tudo e precisa de acolhimento. A gente sabe da condição do outro? A gente ouviu o que ele precisa? E o que fazermos com o que sabemos?
De novo, não carregamos culpa, assistir inertes ao fim do mundo faz parte do projeto, a gente cai fácil nessa, de que bem já que o mundo está acabando, e não tem o que fazer, nada faremos. Também não quero com essas questões nos causar ainda mais ansiedade, não temos respostas imediatas, mas é um caminho que acredito, observar e refletir, tomar consciência. E o ponto de partida é conosco, é a consciência primeira, estar presente em si, pra também estar presente no coletivo, pra quem sabe, a partir de uma ideia genuína de solidariedade pensar junto, o que fazer com o que sabemos. Na sutileza do cuidado interno, na busca por cuidar da minha natureza, eu inicio uma aproximação tão linda e amorosa comigo que só pode reverberar no cuidado do outro e do que nos cerca. Cuidar da gente, a gente pode, se responsabilizar pela nossa vida, a gente pode, mesmo que tenhamos que pedir ajuda. Pra então, quem sabe juntos a gente possa ter pistas do que fazer com o que sabemos e com o que vivemos. Quem sabe juntos, a gente possa resgatar o cuidado à natureza e às pessoas. Quem sabe juntos, a gente possa voltar a gostar de sentir a água por perto e desfrutar da abundância da vida. Aliás, tenho a impressão que a única saída é coletiva.
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JUNHO NO FLOW
A Casa Flow está se recuperando fisicamente em Porto Alegre, mas segue presente em muitos lares por aí. Estou aqui, um passo de cada vez, encontrando forças pros projetos continuarem.
Estou sendo carinhosamente acolhida pela minha amiga Raquel Walter no Time Saúde no Jardim Botânico, começamos nossos encontros na próxima quinta às 18h30.
Caso você esteja longe de Porto Alegre, as aulas online também são uma oportunidade para exercitar o corpo, estão disponíveis a qualquer hora e em qualquer lugar.
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