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Desvincular o exercício à estética do corpo é necessário, mas também é importante admitir que praticar ações centradas no corpo é um bom caminho para encontrar a nossa beleza. Não se trata portanto de alcançar o corpo ideal, aquele estereótipo de beleza feminina que nos é imposto a consumir, mas aproximar-se da gente: reconhecendo nosso corpo, reconhecemos nós mesmas.

A minha história pessoal é de buscar a paz com minha imagem no espelho. Penso que muitas mulheres passam por isso, essa constante desaprovação própria e necessidade de consertar seu corpo. Eu costumava odiar minha imagem, já deixei de vestir muita roupa, estar em muitos lugares, tirar muitas fotos porque não me sentia bonita o suficiente. O sentimento de inadequação nos leva a reprimir também comportamentos, nos fecha literalmente para muitas experiências da vida.

Mente também é corpo

Aqui, um pouco de filosofia para entender como o corpo tomou um lugar diferente e até oposto ao do pensamento, ao desenvolvimento cognitivo. Historicamente, os pensadores do início da era moderna, colocaram a mente como algo superior ao corpo, a mente como algo elevado e o corpo como algo mundano, destrutível. O corpo, para esses filósofos, era marcado pelo pecado, os problemas eram delegados ao corpo, a alma precisava ser salva pelo corpo.

Foucault mostra-nos como o ímpeto de disciplinamento dos corpos advém da concepção, nascida no século XVI, de identificação do corpo com as volúpias e prazeres sexuais, das quais é preciso proteger a alma. É desde então que o corpo se torna ameaça à pureza da alma e é preciso dominá-lo, é imperativo se criar um processo educacional que hierarquize corpo e mente, proteja a mente das impurezas corporais, anestesie o corpo, interiorize os afetos dentro de uma alma individual.

Também existe uma ideia estabelecida de educação do corpo a partir da sua composição biológica, respondendo a estímulos de treinamento físico que formatam o corpo em padrões fortes, robustos, magros e performáticos. Esse olhar da educação física ao corpo limita sua concepção ao biológico, ignora que sentimos emoções no corpo, trazemos uma história de experiências vividas e estamos inseridos em uma cultura.

O filósofo Spinoza contrapõe a ideia de corpo inferior à mente e alma, condenando essa divisão do corpo e da mente e alma. Para Spinoza, “a potência de pensar divina é igual à sua potência atual de agir”, corpo, mente e alma são uma unidade composta de uma multiplicidade de estruturas, de ideias, e não existe um privilégio da alma e da mente diante ao corpo.

Na minha experiência, vim parar na educação física porque me aproximei do corpo. Passei a entendê-lo como algo próprio, e também potente de experiências. Ora, por que as práticas do corpo tem menos importância que o desenvolvimento do intelecto? Cérebro também é corpo, e se beneficia de exercícios físicos. Aqui escrevi sobre inúmeros benefícios na fisiologia do cérebro que a ciência tem associado ao exercício.

O tabu do corpo feminino

O valor da mulher está sempre sendo questionado a partir da premissa que a beleza estética "é fundamental". No âmbito da luta feminista, é polêmico também o apelo à estética da mulher, por mulheres e por homens, pela cultura pop, pela indústria ou mesmo por elas próprias na medida que se sentem bonitas e querem se mostrar. Será que somos realmente neutros de julgamento ao ver uma mulher que passa a se fotografar, a usar recursos estéticos, a divulgar imagens do seu corpo?

O corpo da mulher colocado enquanto objeto de consumo, e servindo ao prazer do homem realmente é algo que temos que lutar contra. Continua....